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  • Foto do escritorJosé Alexandre F. Diniz F

Valorizando a Ciência e a Tecnologia para a Reconstrução do País

Atualizado: 12 de set. de 2022


Sem dúvida esse é um tema crucial e que, em uma primeira leitura, parece simples e poderia até ser um slogan de campanha, algo a ser escrito em uma faixa ou cartaz que vemos nos comícios dos candidatos ao legislativo ou executivo no Brasil de 2022. Talvez seja até uma ideia, mas há muitas discussões importantes que podemos tirar desse tema e espero que, ao final da leitura, concordem comigo que não é tão trivial quanto pode parecer em princípio.


Para iniciar e organizar melhor as ideias, podemos separar o título em duas sentenças, mas vou inverter a ordem da discussão. Vamos começar (rapidamente) pela última parte, e pensar em “reconstrução do País”. No contexto aqui do “Ciência, Universidade e outras Ideias” essa questão é realmente óbvia e temos discutido em muitas postagens aqui os estragos que foram feitos em todas as áreas do país nos últimos anos, em alguns contextos mais específicos ligados à educação, ciência e tecnologia como os últimos anos. Então, me parece que a palavra “reconstrução” é de bastante apropriada. Vamos precisar de todo mundo, mas não vai ser simples, não vai ser rápido e não vai ser fácil...O que nos leva ao segundo ponto da sentença, precisamos valorizar a Ciência e a Tecnologia (e por tabela a Educação) para que isso possa acontecer. Mas será que é isso mesmo? Porque precisamos valorizar Ciência e Tecnologia (C&T) e por que isso é importante para a reconstrução do País? Vamos lá...Didaticamente acho que temos duas linhas básicas para defender esse argumento, que são certamente correlacionadas.

O primeiro argumento, mais conhecido e mais falado, é que o desenvolvimento e investimento em C&T têm sido a principal maneira de resolver os problemas, em todas as áreas. Estamos falando de saúde, agricultura, informação e comunicação, dentre muitas áreas. Todos lembramos de exemplos nessas áreas, indo dos avanços cada vez mais promissores na cura do câncer e outras doenças degenerativas à produção agrícola tecnológica e altamente produtiva capaz de alimentar 8 bilhões de pessoas. Sempre menciono o ensaio “O Sapateiro e a Estrela da Manhã” de S. J. Gould sobre a redução da mortalidade infantil. Acabamos de ver como o desenvolvimento espetacular da vacina da COVID-19 em um tempo recorde foi capaz de minimizar os impactos da pandemia (que ainda assim matou pelo menos 6,5 milhões de pessoas em todo o mundo nos últimos 2 anos e meio, mas se não fosse a vacina, teria chegado a valores MUITO maiores). Embora o único objetivo da Ciência não seja a solução de problemas práticos como esses mencionados brevemente acima, esse componente mais utilitarista e tecnológico do conhecimento científico passou a ser muito importante principalmente a partir da segunda metade do século XX.


O segundo argumento é que uma sociedade mais educada (que seria a base para o desenvolvimento da C&T) é uma sociedade formada por pessoas mais esclarecidas, mais críticas e mais conscientes do seu lugar no mundo, na natureza, mais empáticas e dispostas a entender os problemas à sua volta e se envolver para tentar efetivamente resolvê-los. É um argumento que permeia os precursores da ciência ocidental e que está presente no pensamento dos filósofos gregos, a começar por Sócrates, passando pelos ideais estóicos e pelos ensinamentos da grande maioria das religiões, principalmente orientais (acho que as religiões cristãs ocidentais têm problemas nesse sentido, mas é outra longa estória que a síndrome de impostor me impede de discutir mais, pelo menos por enquanto...). Claro, é a base do “iluminismo” ou, como ouvi mais recentemente, do “esclarecimento”, claramente associado à revolução científica dos séculos XVI - XVIII.


Os leitores mais sagazes vão perceber que os dois parágrafos anteriores foram escritos de forma propositalmente otimista e idealista (para não dizer irônica, em função do meu humor hoje...). Sabemos que, de fato, nenhum dos dois argumentos encontra muito eco na sociedade como um todo, e eu chegaria a dizer que, para a maior parte das pessoas, nenhum dos dois faz sentido, ou simplesmente não importa. Na verdade, ninguém pensa neles ou está consciente desse tipo de discussão e sua importância. E não estou falando de pessoas que nunca frequentaram a escola e que não tiveram acesso à essas informações mesmo nas nossas Universidades...E não estou falando de pessoas que têm, realmente, necessidades muito mais urgentes e básicas, como comer e dar comida para seus filhos e filhas...Tudo isso é o mais complicado.


Em relação ao primeiro argumento mais utilitarista (sem demérito do termo) e tecnológico, mais óbvio inclusive, temos talvez um pouco mais de compreensão pela sociedade, e tem sido inclusive a base da maior parte das reinvindicações das Universidades e sociedades científicas por todo o País. Temos protestado continuamente contra os cortes na C&T e nos orçamentos das Universidades (aqui a “pérola” mais recente desse desgoverno em relação ao FNDCT, mais uma vez...), mas aí é que justamente aparece o problema: se o argumento é tão óbvio, por que é preciso protestar, discutir e argumentar o tempo todo, por que precisamos convencer a sociedade de que as Universidades, onde se concentram as atividades de pesquisa científica e tecnológica no País, são importantes e precisam ser financiadas? Por que todo o desespero em relação à divulgação científica que já discutimos aqui várias vezes?


Tenho chamado esse problema de “Paradoxo de Sagan” em alguns momentos. O grande Carl Sagan (1934 – 1996) sempre dizia que vivemos em uma civilização tecnológica e, de fato, a esmagadora maioria do que nos cerca foi desenvolvimento a partir do nosso conhecimento científico e tecnológico dos últimos 200-300 anos. Estamos realmente imersos na C&T... Sendo assim, por que precisamos convencer a sociedade de que isso é importante? Não faz sentido...Ou faz? Sob os nossos ideais iluministas não, mas na prática, claro que faz! As pessoas simplesmente não entendem o que estão fazendo na correria do seu dia a dia, simplesmente seguem sua rotina. Aqueles (poucos) que podem hoje entram em um Boeing 777 e vão comprar seus i-phones um pouco mais baratos em Nova York algumas horas depois do mesmo jeito que, na idade média, demoravam algumas semanas para vir de Lisboa para Recife a bordo de naus de 30 metros...Como dizia Gill, “...as pessoas na sala de jantar, estão ocupadas em nascer e morrer”.


Em resumo, ninguém pensa ou está consciente da quantidade de conhecimento científico e tecnológico acumulado envolvido no desenho e construção de um Boeing 777. Claro, não precisamos ficar o tempo todo ligados nisso, mas em uma parada de alguns segundos deveríamos perceber que tem algo espetacular ai...Mas não, as pessoas não se preocupam e, mais importante, não fazem as conexões e não entendem o mundo sob uma visão científica e racional em um contexto mais amplo...A mesma ciência que nos permite construir um Boeing nos permite entender que a Terra tem algo como 4,5 BILHÕES de anos e que o Homo sapiens é uma espécie de primata que evoluiu gradualmente a partir de ancestrais comuns com o chimpanzé que viveram 6 ou 7 milhões de anos atrás. E, claro, esse Boeing não vai, depois de algumas horas de voo, cair pela “borda” da Terra plana!


Na verdade, a visão de mundo das pessoas e suas crenças, mesmo no início do século XXI, não são determinadas pelo seu conhecimento racional e científico, nem em grande parte pela sua escolarização, como já discutimos em um contexto do criacionismo a partir dos excelentes trabalhos da filósofa Helen de Silva. Isso nos leva ao problema sério ligado ao segundo argumento, ou seja, até que ponto esse desenvolvimento em C&T, mesmo que aceito e perceptível, tem realmente melhorado a sociedade nas linhas que descrevi acima e que estão em todos os nossos ideais de uma sociedade mais justa. Então, nesse sentido, mesmo sem concordar chego até a entender o argumento de alguns modernistas e mesmo pós-modernistas sobre o valor da C&T (vejam no final da postagem). Meu amigo e colega Ricardo Dobrovolski da UFBA colocou outros argumentos nesse mesmo contexto na última postagem aqui no "Ciência, Universidade e outras Ideias"...A despeito da capacidade da C&T em resolver nossos problemas, esses avanços não são acompanhados por um maior desenvolvimento social. Na realidade, esse tipo de argumento está também associado a uma visão questionável de progresso linear e contínuo da C&T que tem sido difícil superar também. Temos um enorme avanço da C&T associado ao crescimento da pseudociência e do negacionismo, e especialmente nos últimos anos vários movimentos desse tipo ganharam força, inclusive formalmente em um contexto político e econômico. Vemos, por exemplo, um enorme avanço de crenças religiosas fundamentalistas de todas as ordens (parte do problema que mencionei antes rapidamente...) e um aumento do misticismo. É o caso das pessoas acessando a internet com seus i-phones para consultar o seu horóscopo...Não precisamos nem falar do movimento anti-vacina que tomou proporções alarmantes depois da pandemia, especialmente aqui no Brasil, em um exemplo claríssimo e absurdo do “Paradoxo de Sagan”.


Mas vou confessar para vocês que o que me motivou a escrever essa postagem hoje foi uma rápida passada de olho pela última pesquisa eleitoral do DataFolha em 09/09/2022, onde achei essa figura abaixo. Simplesmente deprimente...Como é possível que, dentre as pessoas com alta escolaridade, o atual presidente tenha uma proporção maior e crescente de votos, depois de tudo que aconteceu nos últimos 3 anos??? Temos todos os ataques à C&T, às Universidades e os questionamentos constantes à tomada de decisões baseadas no conhecimento científico, com apoio ao negacionismo climático e tantos ataques ao meio ambiente e às práticas clandestinas de exploração dos recursos naturais do Brasil, fomento ao movimento anti-vacina e adoção de medidas altamente equivocadas durante a pandemia, sua falta de empatia e sarcasmo diante das milhares de mortes e a todo o sofrimento da população, e finalmente o favorecimento de pensamentos anti-científicos baseados no fundamentalismo religioso. Difícil, nos faz pensar realmente “onde nós erramos?”. E vejam que o ex-ministro da Educação Abraham Weintraub (já tinha quase esquecido dessa figura deplorável...) acusava continuamente em 2019 e 2020 as Universidades de serem “esquerdistas“ e doutrinarem os jovens, tornando-os comunistas e tantas outras besteiras! Antes fosse, mas acho que essa figura mostra claramente que não...Mesmo considerando que uma boa parte do ensino superior não está concentrado nas universidades públicas, a figura abaixo não faz muito sentido sob o ponto de vista do ideal iluminista (mas talvez aí esteja pelo menos parte do problema...ensino superior no Brasil pode ser realmente associado a um pensamento crítico?). Sei que temos correlações com outros efeitos, padrões sócio-economicos e tudo mais, mas não vou avançar nisso e não tenho condições de fazer uma análise detalhada nesse resultado em particular; não sou sociólogo nem cientista político, mas fica a minha indagação das causas subjacentes a esse padrão (legal, voltamos à discussão das teorias – no caso sociológicas - e do debate envolvendo o gradiente do realismo/instrumentalismo associado a elas).




DataFolha, no G1 (em 09/09/2022)


Esse último ponto nos leva a duas outras questões interessantes que temos que explorar com bem mais calma, mas que merecem alguns comentários iniciais aqui. Primeiro, sabemos que o problema do negacionismo e da pseudociência que distorcem o conhecimento científico e dificultam compreensão da importância da C&T pela sociedade é algo em grande escala, não são movimentos pequenos e isolados. Existem grandes interesses políticos e econômicos envolvidos, e não podemos ser ingênuos de achar que um pesquisador sozinho vai convencer alguém de alguma coisa e conseguir resultados efetivos contra ele. Estamos falando do professor de ciências trabalhando com dificuldade, sub-remunerado e desmotivado nas salas de aula na periferia dos grandes centros urbanos, e da pesquisadora que no sábado vai ajudar na feirinha de ciências dessa escola, no desespero de ajudar (e às vezes para justificar ao CNPq ou para a CAPES que ele ou ela faz extensão). Ou usar a manhã de domingo para escrever essa postagem...Esse é um primeiro problema que temos que resolver, como aproveitar e potencializar os esforços quase que individuais de centenas ou milhares de educadores, cientistas e pesquisadores tentando mostrar a importância da C&T para a sociedade, e efetivamente integrá-los esforços institucionais em grande escala, no nível dos Ministérios da Educação, e da Ciência, Tecnologia e Inovação? Há algumas iniciativas, claro, mas um pesquisador ou pesquisadora hoje deve lidar com esse dilema, ou seja, ele ou ela começa a agir, em um “trabalho de formiguinha”, investindo seu tempo e até mesmo recursos financeiros próprios nessas ações, com pouca ou nenhuma chance de sucesso, ou tenta esperar que apareçam e tenta se encaixar em grandes programas mais institucionais? A maior parte vai ficar no meio do caminho, às vezes paralisados e, muito rapidamente, desmotivados, e não sem razão...


Mas a questão da escala leva rapidamente a um segundo dilema, ou seja, como as Universidades e grandes instituições vão investir em divulgação e popularização da C&T e combater a pseudociência e o negacionismo se, mesmo nelas, há muito problemas nesse sentido? Sempre pensei nas Universidades como sendo as “guardiãs” do conhecimento e da racionalidade, do pensamento crítico, e no contexto atual, elas seriam “o álamo” do conhecimento! (para quem gosta dos filmes de cowboy e de velho oeste...). Mas esse é outro resquício do meu pensamento positivista e iluminista, e ingênuo, sei disso, claro...C’ Est la Vie!!! Hoje entendo que a Universidade é simplesmente um reflexo da sociedade, por mais que não queiramos isso e devamos (entendo eu) ampliar cada vez mais nossos esforços para corrigir e mitigar esses problemas internos. Em algum momento temos que falar desses “telhados de vidro” por aqui... Voltando, talvez isso explique pelo menos em parte os resultados deprimentes da figura acima. Estamos vendo um número crescente de práticas pseudocientíficas aparecendo nas universidades, indo desde questões de “medicina alternativa” nas áreas de saúde até palestras de movimentos criacionistas, isso sem falar de negacionismo climático nos Departamentos de Geologia ou Ciências Ambientais. Não vamos nem falar do número inacreditável de professores e alunos que geram parte da curva azul escura da figura acima, mesmo depois de todos os ataques e absurdos que aconteceram nas instituições nos últimos anos. Voltamos ao ponto inicial, a ingenuidade do meu segundo argumento no início da postagem. Esse é um ponto complexo e delicado, e envolve muitas questões tanto teóricas e filosóficas quanto práticas. Tenho dito que esse é o “dilema da pluralidade do conhecimento” nas Universidades, que requer uma discussão muito mais profunda, mas que pode ser resumido da seguinte forma: se a Universidade é o local da discussão e da pluralidade de ideias, como vamos decidir o que é ciência e o que é pseudociência? Não estamos falando de questões ligadas à arte ou cultura, que também fazem parte da Universidade, mas como vamos distinguir entre pseudociência e conhecimento científico incipiente ou preliminar? E o que fazer com a questão do conhecimento tradicional? Dos debates ideológicos e do ativismo que está baseado no conhecimento vindo das humanidades? Voltamos aos debates sobre “demarcação” iniciados por Karl Popper em meados do século XX e mesmo às “Science Wars” dos anos 1980, tudo muito complicado....Mas precisamos efetivamente encarar essa discussão e resolver isso de alguma forma, com calma e serenidade. Mas, repito, em algum momento vamos ter que enfrentar seriamente isso, e acho que isso é uma parte importante da reconstrução do País!


Podemos agora voltar ao parágrafo inicial e pensar que, em tempos de campanha eleitoral, é fácil falar em algo como “vamos valorizar a ciência e tecnologia para reconstruir o país”. É um bom slogan (pelo menos para algumas pessoas...), mas temos que ter cuidado para que isso não caia no vazio. É preciso que tenhamos pessoas efetivamente comprometidas com esses pontos e que mostrem, pelo seu histórico, ações concretas, o que tem sido a base para o lançamento de diversos movimentos para que consigamos colocar, no congresso nacional, mais representantes que possam defender os pontos mencionados nesta postagem (veja aqui o manifesto). Pragmaticamente, podemos pensar nas discussões anteriores e sempre tenho destacado que o problema que sempre chama mais atenção porque nos atinge mais diretamente, ou seja, a questão do financiamento do sistema nacional de educação e de C&T, só faz sentido se tivermos coragem de discutir o problema conceitual de como isso deve melhorar a sociedade e ampliar o pensamento crítico, o que por sua vez envolve um forte combate ao negacionismo e à todas as formas de pseudociência. Quero destacar um excelente editorial na revista “Questão de Ciência” sobre isso e que pede que os candidatos se manifestem em relação à pontos específicos importantes hoje, e não apenas digam no vazio que acham que educação, ciência e tecnologia são importantes para o desenvolvimento do país. Não vou repetir os argumentos e listar todos os itens, mas reforço alguns dos pontos mencionados ao longo desta postagem ou mais ligados às minhas linhas de pesquisa transcrevendo partes de alguns deles a seguir:


“-Como você enxerga a previsão constitucional de autonomia universitária? Existe um plano para a melhor integração e especialização das instituições do ecossistema público de ensino, pesquisa e extensão?;


- O clima da Terra está mudando e a discussão política se divide tanto sobre a ciência quanto sobre a melhor resposta a se tomar. Quais são seus pontos de vista sobre as mudanças climáticas e como sua administração agiria sobre esses pontos de vista?


- O número de espécies está diminuindo em um ritmo alarmante como resultado da atividade humana. Que medidas você tomará para proteger a diversidade biológica?


- Como seu governo equilibraria os interesses nacionais com a cooperação global ao enfrentar ameaças esclarecidas pela ciência, como doenças pandêmicas e mudanças climáticas, que vão além das fronteiras nacionais?


- Vacinas estão sendo uma medida sanitária primordial para o combate à COVID-19. Enquanto isso, o sarampo está ressurgindo devido à diminuição das taxas de vacinação, e grupos organizados tentam semear, na opinião pública, temor e desconfiança em relação às vacinas. Como seu governo vai lidar com o sentimento anti-vacinas?


- Grupos de interesse organizados na sociedade, seja por razões ideológicas ou econômicas, rotineiramente buscam influenciar a formulação de políticas públicas. Em vários setores – por exemplo, política agrícola, climática, de saúde pública – algumas dessas influências vão na contramão da evidência científica, por exemplo, com a negação da mudança climática ou na promoção de terapias ditas “integrativas e complementares” no SUS. Como seu governo lidará com demandas e políticas que contrariam a ciência?”



Finalizando, essa postagem é uma síntese rápida das discussões que ocorreram recentemente em uma mesa redonda promovida pela ADUFG, o nosso Sindicato dos Docentes das Universidades Federais de Goiás, justamente com o tema “Valorizando a Ciência e a Tecnologia para a Reconstrução do País”. Esse evento fez parte da cerimônia de concessão do título de Doutor Honoris Causa ao importantíssimo professor e economista brasileiro Luiz Gonzaga de Mello Belluzzo. Foi uma honra conhecer, debater e discutir com os colegas e com o Prof. Belluzzo durante pouco mais de 2 horas (link para o YouTube abaixo)! Um ponto importante nessas discussões foi que ficou claro para mim que, obviamente, as dialética entre o avanço científico e o desenvolvimento social que sempre me inquietaram e que temos discutido nesse contexto de popularização da ciência já ocorrem há muito tempo na economia e na sociologia, talvez de forma um pouco diferente. Temos as chamadas “críticas à modernidade” da escola de Frankfurt de Filosofia Política e Jurgen Habermas, ou por exemplo alguns trabalhos de Bruno Latour (“Jamais Fomos Modernos”, de 1991; mas claro que ainda preciso estudar bem mais, tem muita coisa por aí, mas fica a dica de possibilidades legais de interações interdisciplinares...). A minha ideia do Paradoxo de Sagan parece um pouquinho diferente, mas não que as ideias desses filósofos estejam incorretas ou não devam ser consideradas, muito pelo contrário. O meu medo, que já comentei aqui, é que pessoas sem escrúpulos, no contexto do negacionismo e da pseudociência, se aproveitaram desses debates honestos e o importantes para minar a confiança na ciência e estimular essas práticas a fim de conseguir benefícios financeiros e políticos. Então, acho que a minha ideia do Paradoxo de Sagan continua válida no sentido de revelar o padrão, e mesmo que essas ideias anteriores sejam parte da explicação teórica para sua origem, a ideia é resolver o paradoxo lidando com os dilemas de forma pragmática e não minando a credibilidade na Ciência e a confiança de que o avanço da C&T associada a um pensamento crítico universal seja a única forma de melhorarmos como sociedade (o que nos leva de volta também à discussão anterior entre escolher entre Hobbes e Rousseau!).








Capa: congresso nacional em foto de Pierre Triboli


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