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  • Foto do escritorJosé Alexandre F. Diniz F

O pior dos tempos, o melhor dos tempos

Atualizado: 27 de dez. de 2019

“It was the best of times, it was the worst of times,

it was the age of wisdom, it was the age of foolishness,

it was the epoch of belief, it was the epoch of incredulity,

it was the season of light, it was the season of darkness,

it was the spring of hope, it was the winter of despair,

we had everything before us, we had nothing before us,

we were all going direct to Heaven, we were all going direct the other way ...”


Sempre gostei muito da abertura de A Tale of Two Cities do escritor inglês Charles Dickens, publicado em 1859 (aliás, mesmo ano da publicação da “Origem das Espécies” por – também Charles - Darwin). Tenho usado essas frases, que para mim expressam muito bem a “filosofia dos opostos” de Heráclito, em vários contextos. Como acontece em todas as transições artificiais no nosso calendário, em especial com as comemorações de Ano Novo, fazer uma retrospectiva é bastante comum e não resisti ao clichê. Decidi terminar o ano usando, mais uma vez, a epígrafe de Dickens.


Acho que o “the worst of times” é obvio para aqueles que têm acompanhado as minhas postagens aqui no “Ciência, Universidade e outras Ideias”. Depois de muitas discussões acirradas e atritos durante a campanha para as eleições presidenciais em 2018, vimos a populações brasileira, no mais belo exemplo de democracia, eleger um candidato conservador de extrema direita. Ainda quero crer que, em grande parte, uma combinação dos efeitos da intensa campanha de fake news pelas redes sociais, do baixo capital cultural e intelectual e do forte sentimento “anti-PT” (justificado ou não), e não uma concordância real com as posições absurdas do presidente eleito, explicam em grande parte o resultado das urnas. Além disso, sabemos essa guinada à direita não é algo exclusivo do Brasil, fazendo parte de um movimento global que incluiu a eleição de Donald Trump nos EUA, Viktor Orbán na Hungria e (quase) Marine Le Pen na França, dentre outros. Há muito o que pensar sobre a natureza humana diante dessa guinada à direita global no final do século XXI... Mas, apesar de entender o movimento e estar preparado para uma série de mudanças em 2019, confesso que fiquei surpreso com a capacidade do governo Bolsonaro de realizar grandes estragos em tão pouco tempo em tantas áreas diferentes.


Seria tedioso listar todos os movimentos reacionários do primeiro ano do governo Bolsonaro, mas acho que posso sintetizar a minha percepção e visão pessoal do “pior dos tempos” usando um esquema hierárquico de classificação que me posiciona diante desses movimentos:


1. Sou, desde 1994, servidor público federal e a política neoliberal do Governo Bolsonaro e seus análogos nos governos Estaduais (inclusive em Goiás) atingem diretamente os servidores públicos, de diversas formas. Em primeiro lugar, há uma campanha ativa de desmoralização e ataques aos servidores públicos, em todas as esferas da administração pública. Na prática, cria-se um contraste a partir de generalizações de que os servidores públicos são muitos, ganham muito bem e são, portanto, diretamente responsáveis pelo colapso nas contas públicas (o que, na melhor das hipóteses, é verdade apenas em parte...). Além disso, a campanha insiste que os servidores são privilegiados que não trabalham e assim fazem com que o sistema público seja extremamente ineficiente. Isso implica em suspender novos concursos, cortar direitos e benefícios dos servidores ativos e, para fazer isso com “legitimidade” diante da sociedade, cria-se uma campanha de desmoralização. Sob um ponto de vista mais amplo, entendo que no centro desses ataques está uma discussão econômica e social mais profunda sobre o “tamanho do Estado”, e como o número de servidores e sua eficiência são indicadores diretos deste, então temos problemas. Pensando de forma "teórica" (neste caso, talvez um eufemismo para “de forma ingênua”), acho que essa poderia ser uma discussão importante e resolvida de forma analítica, comparando diferentes Estados, hoje e no passado, entendendo suas particularidades e vendo em que posição de um gradiente entre um maior e menor tamanho do Estado haveria maior desenvolvimento e bem-estar da população. Não acho que estou qualificado (cientificamente, pois não tenho formação em ciência política, sociologia, economia ou áreas relacionadas...) para opinar sobre como analisar essas informações e emitir uma opinião embasada. Mas minha impressão (e é só uma impressão mesmo) como servidor público é que talvez um Estado mínimo não fosse um problema sério em uma sociedade extremamente educada, amadurecida e com elevado grau de altruísmo e empatia social, capaz de controlar a ganância dessa entidade sobrenatural, “o mercado”, e do próprio capitalismo, e garantir assim justiça social. Mas, se é isso, será que estamos preparados para isso no Brasil de 2019? Com certeza não...Além disso, se essa é uma discussão séria e profunda, realmente feita a partir de informações e análises comparativas honestas, por que os ataques e a campanha de desmoralização?


2. Em um segundo nível, dentro do serviço público federal, desde 1994 sou professor em uma universidade pública federal, a Universidade Federal de Goiás (UFG). A Universidade pública em geral, e em especial o sistema federal de ensino superior, vem sofrendo uma série de ataques desde o início do Governo Bolsonaro, oriundos principalmente do próprio Ministério da Educação. Isso é algo inusitado, para dizer o mínimo, já que as Universidades Federais são mantidas e fazem parte do MEC. Esses ataques se intensificaram em abril de 2019 após a posse do sr. Abraham Weintraub, que é inclusive professor da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP). Como já coloquei em diversas postagens anteriores, esses ataques têm sido feitos de diversas formas, direta e indiretamente. Eles atingem a Universidade tanto em termos operacionais, com cortes e contingenciamentos de recursos para o seu funcionamento básico (em despesas como energia, água, limpeza, segurança, transporte etc), quanto em termos mais gerais e difusos, principalmente por uma grande campanha de difamação dos professores e dos estudantes. Só para nos limitarmos talvez aos “extremos” do processo ao longo de 2019, Weintraub começou sua gestão ameaçando cortar as verbas das universidades em função destas promoverem “balburdia”, já enquadrando de saída a Universidade Federal da Bahia (UFBA), a Universidade de Brasília (UnB) e a Universidade Federal Fluminense (UFF) e chegando ao ápice (espero...) quando ele disse publicamente que há extensas plantações de maconha e laboratórios de química envolvidos na produção de drogas (e reiterou isso em audiência pública no Congresso Nacional, o que lhe rende uma ação judicial pela Associação dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior, a ANDIFES; outras instituições e entidades já fizeram ou estão fazendo pedidos semelhantes). .Todos os ataques me parecem correlacionados em parte com o exposto no item acima, no sentido de tentar implementar um Estado mínimo e desmontar o sistema federal de ensino superior. Segundo o ministro, o sistema é caro e ineficiente, a despeito da sua qualidade quando comparado ao sistema privado de ensino superior e a praticamente hegemonia em termos de pesquisa científica. A solução de Weintraub para o problema das universidades é (ou foi...) o infeliz programa “Future-se”, criticado pela grande maioria dos Conselhos Superiores das Universidades e pela comunidade acadêmica. Subjacente a esses ataques há também um forte componente ideológico, uma perseguição aos “esquerdistas” e uma tentativa de desvalorizar ainda mais as áreas de “humanidades”, lideradas pelo “guru” intelectual do Governo Bolsonaro, Olavo de Carvalho;


3. Em terceiro lugar, na UFG, sou professor do Departamento de Ecologia e atualmente coordenador do programa de Pós-Graduação em Ecologia & Evolução, e nesse caso poderiamos subdividir esse item em pelo menos 3 pontos diferentes.


  • 3.1. Começando pelo mais geral, como tenho ressaltado diversas vezes, a pesquisa científica no País e a formação de recursos humanos altamente qualificados em nível de mestrado e doutorado é feita quase que exclusivamente nas Universidades públicas. Dentro da nossa lógica do “tripé” ensino-pesquisa-extensão, entendemos que uma boa formação profissional em nível superior requer uma interação constante entre produção e transmissão do conhecimento, em práticas socialmente referenciadas. Os recursos orçamentários necessários para essas atividades de pesquisa e pós-graduação não são oriundos das Universidades, mas isso não significa que não temos problemas, muito pelo contrário. Isso porque, paralelamente ao desmonte e a perseguição às Universidades, temos também um sério ataque às instituições de apoio à pesquisa no Brasil, especialmente o CNPq e a CAPES, novamente com estrangulamento em termos de recursos (e com cortes de bolsas afetando milhares de estudantes de pós-graduação e pesquisadores) mas, especialmente, por uma série de movimentos que promovem uma instabilidade e falta de confiança no sistema, culminando nas ameaças reiteradas de fusão entre CNPq e CAPES (que na realidade não objetivam nenhuma melhoria, apenas desmonte e redução do orçamento total);


  • 3.2. Em termos mais específicos na minha área de atuação profissional e como cientista, em Ecologia e Evolução, poderíamos encher várias páginas com os problemas ecológicos e ambientais do Governo Bolsonaro, mais uma vez em ataques de diferentes formas e em várias frentes. Mas acho que uma excelente síntese pode ser encontrada na webpage “Ciência e Sociedade”, um movimento liderado pela minha colega Mercedes Bustamante da Universidade de Brasília, criado em 2019 como mais uma forma de resistência e com o objetivo de mostrar à sociedade, por uma série de excelentes textos de divulgação científica escritos em colaboração, os desmandos nessa área. As declarações absurdas e alucinadas do próprio presidente Bolsonaro, os encontros do ministro Ernesto Araújo, do Itamaraty, com membros de grupos que negam o aquecimento global, o recente vexame do ministro Ricardo Salles na COP25 em Madri, bem como o estímulo ao desmatamento e queimadas, desmonte das estruturas de fiscalização do IBAMA e ICMBio, uso desenfreado de agrotóxicos, ocupação ilegal e incentivo à exploração de reservas indígenas (com inevitáveis confrontos seguidos de mortes de lideranças indígenas e ativistas), são apenas alguns dos muitos e muitos retrocessos nessa área;


  • 3.3. Ao mesmo tempo, indo na outra vertente da minha área de atuação com pesquisador, vemos um crescente movimento religioso fundamentalista insistindo em visões dogmáticas criacionistas, um problema antes encontrado apenas nos Estados Unidos. Essa situação é bem ilustrada com a declaração da ministra Damares Alves de que “...A igreja evangélica perdeu espaço na história. Nós perdemos o espaço na ciência quando nós deixamos a teoria da evolução entrar nas escolas, quando nós não questionamos, quando nós não fomos ocupar a ciência. A igreja evangélica deixou a ciência para lá e aí cientistas tomaram conta dessa área” (antes de assumir como ministra, é verdade...). Essas visões fundamentalistas estão inseridas em um contexto maior, com base em uma visão tradicional e cultivando valores “da família tradicional” (quaisquer que sejam eles...), indo contra o sistema educacional ao defender irrestritamente a educação familiar, ampliando a doutrinação fundamentalista e acirrando preconceitos e abrindo espaço para sérios problemas de violação dos direitos humanos. Há um ponto bem interessante na participação da ministra em um evento internacional sobre demografia na Europa promovido há alguns meses por Viktor Orban, defendendo o aumento da taxa reprodutiva das “famílias tradicionais e pessoas de bem” a fim de retomar a Europa, mas vamos discutir isso com mais calma em outro momento...



Então, considerando os problemas nos níveis hierárquicos discutidos acima, é fácil entender minha decepção com a situação atual do Brasil, em termos de ciência, educação e meio ambiente. Em síntese, pensando apenas na esfera Federal, sofremos ataques dos ministros Paulo Guedes, da Economia (considerando sua liderança no sistema neoliberal), Abraham Weintraub da Educação, Ernesto Araújo das Relações Exteriores, Ricardo Sales do Meio Ambiente, Damares Alves, do ministério da Mulher, Família e Direitos Humanos e Teresa Cristina da Agricultura. Podemos representar a relação entre os ataques desses ministérios e os 3 níveis hierárquicos de forma esquematizada na figura abaixo.





Nosso ministro de Ciência e Tecnologia (+ Inovação e Comunicação), o ex-astronauta Marcos Pontes, não fez, pelo menos até onde eu saiba, nenhuma declaração absurda, mas realmente não entendo como alguém com um mínimo de conhecimento científico é capaz de conviver com o resto da equipe de primeiro escalão do Governo Bolsonaro. Algumas fontes sugerem que o sistema de C&T&I só não colapsou inteiramente porque ele tem conseguido defender a importância da ciência e tecnologia, a portas fechadas...Não sei, mas em algum momento isso vai ter que ficar mais claro (por exemplo, a posição do ministro Pontes no caso do Dr. Ricardo Galvão não foi das mais exemplares...). Claro que essa é a minha visão pessoal dos problemas, como servidor público, professor em uma Universidade Federal e pesquisador na área de Ecologia e Evolução. Mas acompanho mais à distância os ataques em outras áreas, em particular nas questões ligadas aos direitos humanos e à cultura em geral, incluindo práticas de censura e ameaças à liberdade de impressa e de expressão, e sei que os problemas são tão sérios, ou até piores, do que aqueles que tenho acompanhado mais de perto.


Como já discuti em outras postagens, tudo isso deixa claro que apenas uma parte dos problemas que vivenciamos está, de fato, na crise econômica que se instalou a partir de 2015. Essa crise tem sido utilizada para justificar a ameaça explícita às instituições por meio dos cortes no orçamento das Universidades e das agências de fomento à pesquisa, bem como a demonização do funcionalismo público. Entretanto, desde o início tenho insistido que o problema mais sério está implícito em muitas dessas ações (ou quiçá em todas elas), que é a adoção de uma visão claramente socialmente conservadora, ultrapassada, anti-científica e anti-educacional pelo atual Governo.


Fiquei cansado e ligeiramente deprimido aos escrever e reler todos os parágrafos anteriores (e tenho certeza de que há muito mais problemas do que os relatados acima...). Sei que sobra pouco espaço, mas quero fazer um esforço para terminar o ano com uma atitude positiva, o que me leva de volta a Dickens. A essa altura vocês devem estar se perguntando, “E quanto ao “melhor dos tempos” ?


No melhor espírito de Heráclito, em síntese acho que um ponto importante para começarmos é que temos mais clareza do que temos de bom quando somos expostos a grandes contrastes, ao pior dos mundos. O Governo Bolsonaro tem nos mostrado o que há de pior e a atitude do próprio Presidente, em diversos sentidos, faz com que muitas pessoas que antes estavam escondidas da sua própria ignorância agora tenham suas opiniões absurdas e preconceituosas legitimadas. A partir do momento que essas pessoas se expõem, podemos entender a dimensão dos problemas da sociedade brasileira, em termos culturais e educacionais, e mesmo de civilidade, considerando o alarmante aumento nos casos de racismo, homofobia, feminicídios, assassinato de lideranças indígenas, dentre outros. É sério que temos 7% de brasileiros que acreditam que a Terra é plana? Quem imaginaria sequer falar sobre isso ou fazer uma enquete dessas há 2 anos atrás? Vejam o caso mais conhecido na minha área de pesquisa, a questão do criacionismo, que antes achávamos que era algo menor e anedótico, predominando em alguns Estados mais conservadores do sul dos Estados Unidos, mas que agora aparece de forma escancarada. Temos toda a questão do negacionismo e o avanço da pseudociência promovidos em fake news pelas redes sociais, isso sem falar no próprio “revisionismo histórico”, promovido por Olavo de Carvalho e seus seguidores, agora com apoio explícito do próprio MEC. Até muito pouco tempo atrás não estávamos cientes do tamanho e da força dessas ideias ultrapassadas e conservadoras. Ok, posso estar sendo otimista ao dizer que ter consciência de todos esses problemas faz parte do “melhor dos tempos”, mas já é alguma coisa...


Na prática, temos algumas conquistas interessantes e alguns movimentos que demonstram que muitos entendem o problema e estão dispostos a combater os absurdos. Em termos políticos e sociais, algumas (poucas, de fato) ações do Congresso Nacional e do Poder Judiciário impuseram derrotas à agenda conservadora do Governo Bolsonaro, o que mostra que ainda é possível confiar minimamente nessas instituições e que estamos, pelo menos por enquanto, vivendo em um Estado Democrático (e que esperamos que persista até as próximas eleições). Em termos de Ciência e Ecologia, a ativista Greta Thunberg (chamada de “piralha” por Bolsonaro) foi eleita personalidade do ano pela Times. Ricardo Galvão, ex-diretor do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) e professor da Universidade de São Paulo (USP), foi destacado como um dos cientistas mais importantes do mundo em 2019 pela Nature, por sua atitude e coragem denunciando e defendendo os dados científicos do INPE que mostravam o alarmante problema de queimadas na Amazônia, mais uma vergonha internacional de Bolsonaro e de seu ministro do meio ambiente, Ricardo Sales.


Tivemos também uma série de movimentos em defesa das Universidades e da Educação em todo o Brasil, desde o início do ano. Professores, alunos e pesquisadores em geral saíram às ruas e estão usando com mais frequência as redes sociais e outros meios de comunicação para mostrar os resultados de seus trabalhos de pesquisa e, assim, convencer a sociedade da importância da Ciência e da Universidade pública. Na realidade este blog foi criado justamente nesse contexto, uma tímida iniciativa de tentar mostrar para todos o que fazemos e como funciona a Universidade e a Academia (embora eu mesmo não seja tão otimista em relação ao sucesso dessa empreitada, diante do tamanho dos problemas sociais subjacentes à falta de educação e cultura no Brasil, como já discutimos). Ao mesmo tempo, as principais sociedades científicas do Brasil, especialmente a Academia Brasileira de Ciências (ABC) e a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), lideraram uma série de movimentos junto ao Congresso Nacional, na tentativa de garantir recursos financeiros para finalizar 2019 e contra os cortes do orçamento previstos para 2020 (ainda é cedo para dizer o que realmente vai ocorrer...).


Com tudo isso, minha percepção é que a própria comunidade científica está mais alerta e consciente da sua situação precária. Eu mesmo sempre tive a visão idealizada e ingênua de que a sociedade entendia o papel da ciência e da tecnologia, mesmo que não conhecesse os detalhes do que fazemos na Universidade no dia-a-dia...Percebi que não é tão simples assim e que há forças muito poderosas atuando e cultivando a ignorância da população. Mas quero crer que se formos inteligentes o bastante, vamos usar esses ataques para entender melhor as ameaças e diagnosticar nossos pontos fracos. Sei que temos que fazer isso com cuidado, pois não quero ser ingênuo e apontar os problemas que temos para um Governo que, de fato, não quer melhorar o sistema de pesquisa e de ensino superior e sim desmontá-lo a fim de atender a interesses escusos. Mas, internamente, lá no fundo, temos que usar esse momento em nosso favor. Será que conseguimos melhorar nossas instituições? Será que realmente estamos fazendo a diferença em termos de ciência e educação? Será que poderemos contornar e resolver o problema da ignorância da sociedade em relação à ciência? “Será que é tudo isso em vão, será que vamos conseguir vencer?”. Quero crer que sim, e acho que, com todos esses ataques, nosso “senso de pertencimento” social como cientistas e professores aumentou, o que sem dúvida é algo positivo.


Finalmente, encerramos 2019 com uma série de escândalos envolvendo o “clã” Bolsonaro, que aparentemente está fortemente ligado a práticas criminosas das milícias no Rio de Janeiro e de corrupção, dentre outros problemas. Há muitas variáveis a considerar, com múltiplas interações não conhecidas que podem levar a diferentes trajetórias de continuidade ou não da atual política...Muita coisa em jogo, não sei se dá para arriscar um palpite sobre o que acontecerá na política e na economia no próximo ano, com implicaçoes óbvias para a Educação, Ciência e Tecnologia no Brasil. Podemos apenas esperar que as frases finais do parágrafo de abertura de Dickens prevaleçam para 2020: it was the spring of hope, it was the winter of despair...we were all going direct to Heaven, we were all going direct the other way ..."



Charles Dickens (1812-1870)




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